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Romanelli: “manutenção do abono é ótima para os trabalhadores”

O deputado Romanelli (PSB) disse nesta quarta-feira (2) que a manutenção das regras atuais sobre o abono salarial, aprovada na terça-feira, 1º de outubro, pelo Senado, é “ótima para os trabalhadores e muito boa para a economia brasileira”. “O corte do abono poderia prejudicar 1,5 milhão de paranaenses”, completa.

Segundo ele, a restrição do benefício a quem ganha até R$ 1.364,43 por mês, como estava proposta na Reforma da Previdência, “penalizaria e tiraria o poder de consumo dos trabalhadores. O abono é uma espécie de 14º salário e aumenta o poder de compra dos mais humildes”.

“Vivemos em uma sociedade de consumo. O Brasil é uma sociedade capitalista e moderna e quanto mais poder de compra tem o trabalhador e as pessoas, de uma maneira geral, mais a economia gira”, argumentou o deputado.

Impacto – Romanelli já havia alertado que a alteração no pagamento do abono salarial, além de deixar 1,5 milhão de paranaenses sem o benefício, causaria um impacto de R$ 1 bilhão ao Estado.

Hoje, quem tem carteira assinada e recebe até dois salários mínimos (R$ 1,9 mil) por mês tem direito ao abono, cujo valor é de um salário mínimo (R$ 998). De acordo com a Rais (relação anual de informações sociais) de 2017, quase 24 milhões dos 46 milhões de trabalhadores formais do país ganhavam até dois salários mínimos, considerando o patamar nacional. Se a proposta fosse aprovada, apenas 2,6 milhões passariam a ter direito ao benefício.

“Esse impacto no Paraná seria muito grande. Cerca de 1,5 milhão de trabalhadores poderiam ser afetados, o que representaria R$ 1 bilhão no ano”, enumerou.

O montante, segundo Romanelli, significa 8,6% de todos os benefícios (Fies, FGTS, seguro desemprego, bolsa família) pagos pela Caixa, 3,9% dos recursos movimentados pelo banco e 2,12% do orçamento do Estado. “É muito dinheiro, que é muito importante para nossa economia, pois os assalariados gastam esse dinheiro no mercado local”.

Quem vai pagar o pacto?

“Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa” – Eduardo Campos.

Luiz Claudio Romanelli*

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou na semana que passou que enviaria ao Congresso Nacional a proposta do novo pacto federativo. Enquanto a Reforma da Previdência, disse ele, ganhasse a Câmara dos Deputados, o pacto federativo seguiria seu curso no Senado. Com a reforma, tudo bem, foi entregue, mas o ministro recuou em relação ao novo pacto. Agora ficará para um segundo momento, talvez em abril, adiantou a equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro.

O principal argumento para adiantar a PEC do Pacto é a quebradeira generalizada – o Paraná é uma exceção – de estados e municípios. Para salvar o caixa de governos e prefeituras, Guedes condicionou a antecipação de receitas pela União a ajustes e reformas previstos na proposta – um “balão de oxigênio”.

Agora, vale a mesma pergunta que cabe para a reforma da previdência: quem vai pagar essa conta? E além dos ajustes que maior parte de governos estaduais e prefeituras já fazem – corte de gastos e despesas -, o que prefeitos e governadores podem mais fazer? Temo pela precarização ainda maior dos serviços públicos com a transferência total para iniciativa privada de empresas estratégicas para estados e municípios.

Em outro ponto, o ministro afirmou que é preciso desamarrar, desindexar, desvincular os orçamentos e devolver o poder de decisão para prefeitos e governadores fazer o que é mais urgente no município e estado. As vinculações orçamentárias e gastos obrigatórios – exemplos: 25% das receitas em educação, 12% e 15% em saúde – estão previstos em lei e que qualquer mudança merece atenção redobrada da sociedade.

Essa proposta, a princípio, pode agradar prefeitos e governadores. Os prefeitos apontam para enormes dificuldades de governar hoje os municípios. Muitas das obrigações que estão no colo dos prefeitos não são, a rigor, obrigações das administrações municipais. Se não existir um novo pacto muitos municípios brasileiro, afirma a Frente Nacional dos Prefeitos, vão entrar em insolvência num prazo de três a quatro anos. E vários municípios já estão nesta situação agora. A Confederação Nacional dos Municípios aponta que 67% das prefeituras atrasam o pagamento aos fornecedores.

Eu sempre defendi a urgência de um novo pacto federativo que, em resumo, deve tratar da partilha justa da arrecadação dos impostos entre os entes federados: União, estados e municípios. É um debate que se arrasta há 15 anos, mas que não se resolve apenas com ajustes, desvinculação orçamentária e sem resolver, principalmente, a repartição deste bolo de receitas.

Como está hoje essa divisão – algo em torno de 55% para União, 25% com os estados e 20% com os municípios – não pode ficar. Os prefeitos defendem – e eu concordo com a proposta – a divisão da seguinte forma: 40% para a União, 30% para estados e 30% para municípios. Esse é o principal ponto que deve nortear a construção do novo pacto federativo. Os outros pontos, como os já sinalizados pelo ministro Guedes, merecem a nossa preocupação.

Na atual conjuntura, as prefeituras têm as despesas aumentadas na prestação dos serviços essenciais, como saúde e educação. Além de prover as cidades de hospitais, postos de saúde e creches, são necessários recursos para manutenção e a contratação de médicos, enfermeiros e professores. A contrapartida do governo federal é pífia e as obrigações recaem todas nas costas dos prefeitos.

Hoje, ex-prefeitos afirmam não querem se candidatar novamente aos cargos pois conhecem as dificuldades financeiras para se gerir uma administração pública. O governo federal faz a obra, mas o ônus do funcionamento fica com a prefeitura que não recebe a contrapartida para manter as estruturas e os serviços com qualidade. Um grande programa como da Saúde da Família, por exemplo, acaba tendo um custo muito maior do que é repassado pela União.

O novo pacto federativo deve ensejar a recuperação da capacidade de investimentos dos estados e municípios. Não é possível recuperar o Brasil, como diz pretender o ministro Guedes, se não houver repactuação que envolva o disciplinamento das atribuições e responsabilidades dos entes federativos e a repartição dos investimentos.

Em tempo: O Brasil tem mais de 4,7 mil obras paralisadas na maioria dos municípios que podem agregar R$ 115 bilhões à economia e gerar mais de um milhão de empregos. Um plano emergencial para retomá-las vem em boa hora ministro.

Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual pelo PSB.

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